sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Uma Lição interessante...

 

 

Texto - Max Gehringer

 Durante minha vida profissional, eu topei com algumas figuras
cujo sucesso surpreende  muita gente.
Figuras sem um Vistoso currículo  acadêmico, sem um grande
diferencial técnico, sem  muito networking ou marketing
pessoal. Figuras como o Raul.
Eu conheço o Raul desde os tempos da  faculdade.
Na época, nós tínhamos um colega de classe, o Pena, que era um gênio.
Na hora de fazer  um trabalho em grupo, todos nós queríamos
cair no grupo  do Pena, porque o Pena fazia tudo sozinho.
Ele escolhia o tema, pesquisava os  livros, redigia muito bem
e ainda desenhava a capa do trabalho - com tinta  nanquim.
Já o Raul, nem dava palpite.
Ficava ali num canto, dizendo que seu  papel no grupo era  um
só, apoiar o Pena.
Qualquer coisa que o Pena precisasse, o  Raul já estava
providenciando, antes que o Pena concluísse a frase.
Deu no  que deu. O Pena se formou em primeiro lugar na nossa turma. E o
resto de nós passou meio na carona do Pena - que, além de nos dar uma colher
de chá nos  trabalhos, ainda
permitia que a gente colasse dele nas provas.
No dia da  formatura, o diretor da escola chamou o Pena de
'paradigma do estudante que  enobrece esta instituição de
ensino'.
E o Raul ali, na terceira fila, só  aplaudindo.
Dez anos depois, o Pena era a estrela da área de planejamento
de  uma multinacional.
Brilhante como sempre, ele fazia admiráveis projeções
estratégicas de cinco e dez anos.
E quem era o chefe do Pena?
O  Raul.
E como é que o Raul tinha conseguido chegar àquela posição?
Ninguém  na empresa sabia explicar direito.
O Raul vivia repetindo que tinha subordinados  melhores do que
ele, e ninguém ali parecia discordar de tal afirmação.
Além  disso, o Raul continuava a fazer  o que fazia na escola,
ele apoiava.
Alguém tinha um problema?
Era só falar com o Raul que o Raul dava um  jeito.
Meu último contato com o Raul foi há um ano. Ele havia sido
transferido para Miami, onde  fica a sede da empresa.
Quando conversou  comigo, o Raul disse que havia ficado
surpreso com o convite.
Porque, ali na  matriz, o mais burrinho já tinha sido astronauta.
E eu perguntei ao Raul qual  era a função dele.
Pergunta inócua, porque eu já sabia a resposta.
O Raul  apoiava. Direcionava daqui, facilitava dali, essas
coisas que, na teoria, ninguém precisaria mandar um brasileiro
até Miami para fazer.
Foi quando,  num evento em São Paulo , eu conheci o
Vice-presidente de recursos humanos da  empresa do Raul.
E ele me contou que o Raul tinha uma habilidade de valor
inestimável:
. .. Ele entendia de gente.
Entendia tanto que não se preocupava em ficar à sombra dos
próprios subordinados para fazer com que eles se sentissem
melhor, e fossem mais  produtivos.
E, para me explicar o Raul, o vice-presidente citou Samuel
Butler, que eu não sei ao certo quem foi, mas que tem uma
frase  ótima:
'Qualquer tolo pode pintar um quadro, mas só um gênio consegue vendê-lo'.
Essa era a habilidade aparentemente simples que o Raul tinha,
de  facilitar as relações  entre as pessoas.
Perto do Raul, todo comprador normal  se sentia um expert, e
todo pintor comum, um gênio. Essa era a principal  competência
dele.
' Há grandes Homens que fazem com que todos se sintam pequenos.
Mas, o verdadeiro Grande Homem é aquele que faz com
que todos se sintam Grandes.'